segunda-feira, 15 de março de 2010

Caim – José Saramago

A velha e boa irreverência de nosso mais cáustico gajo. Neste livro “curto e grosso”, Saramago parece querer botar no papel aquela série de observações que qualquer leitor da Bíblia Sagrada um dia já se colocou: se deus é onipotente e onipresente, porque deixa que coisas ruins aconteçam? Porque os súditos do senhor tiveram que cometer algumas atrocidades para a maior glória do todo poderoso? Porque o deus do Antigo Testamento, certas vezes, parece agir motivado pelos mesmos infortúnios dos humanos, apresentando ira, ciúmes e vaidade? E, afinal de contas, o que aconteceu com Caim após ter sido amaldiçoado pela morte de Abel?
Passando de maneira vertiginosa por alguns dos episódios mais famosinhos da Bíblia, Saramago insere seu atormentado e revolucionário personagem em situações tensas e, miraculosamente, engraçadas. Ao longo de sua jornada, Caim acumula provas de que os caprichos divinos não passam mesmo de brincadeiras de mau gosto com nossa miserável raça de títeres de carne e osso.
Mais uma vez, o português iconoclasta despeja sua ira sobre episódios obscuros da saga do deus judeu/cristão/islâmico, que age sempre em seu próprio benefício e para promover sabe-se lá qual plano superior. Mais direto e menos alegórico que o “Evangelho segundo Jesus Cristo”, apresenta ainda a característica acidez e a forma inovadora de encadear as frases de seus romances anteriores.


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2 Comentários:

Blogger Antonio Abreu disse...

Ainda nao tive a oportunidade de apreciar mais essa obra de Saramago, mas pelo que já percebi não será tempo perdido ler esse texto do portugues. É interessante a forma como o escritor aborda os assuntos religiosos, praticamente transforma a bíblia em migalhas e revela todo o preconceito e falsa moral que dela o ocidente conseguiu tirar. Gosto desse tipo de escritor reacionário... Abraço.

17 de maio de 2010 às 18:06  
Blogger Renato F. disse...

Caro Antonio,

Obrigado pelo post. De fato, vale a pena ler mais esse livro do Saramago. Sua indignação com o status quo, típico de um "velho marxista", ataca mais uma vez os grandes mitos. O novo testamento já foi virado de cabeça para baixo, e agora lá se parte do velho. Como eu gostaria agora de ver um livro dele sobre a estória de Jó!

Abraço

18 de maio de 2010 às 08:46  

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